Concurso de Projeto 2018 – IAB/RS
Abaixo o Memorial Resumo que foi entregue pela nossa equipe ao Concurso:
Superar uma perda ou uma ocorrência trágica requer enfrentá-la, e isso requer aceitar como fato tudo o que foi, por mais doloroso que seja. Expressá-la por meio da arte – e da arquitetura em particular – é uma prova de que ainda há força plástica suficiente para o enfrentamento, a superação e a transformação do fardo em vida.
A nossa proposta para o Memorial em homenagem às vítimas do incêndio na Boate Kiss, é pensado em quatro conjuntos de espaços formados por: 1) praça, nártex e memorial; 2) auditório e serviços; 3) “pequena edificação”; 4) articulação vertical.
No que se refere ao primeiro e principal conjunto, a perda e a reconstrução de sentido, vazio e preenchimento, são os pares conceituais que norteiam a sua criação. A praça de acesso é pensada como o espaço da perda de referências, da lacuna de sentido, onde a memória custa a reconstruir vivências passadas a partir de fragmentos do que foi vivido. Sua paginação foi então pensada como um quebra-cabeças – um grande mosaico em malha ortogonal onde se interpõem, de modo aparentemente desordenado, áreas de piso, gramado e canteiros com vegetação de pequeno porte. Continuando o percurso, três espelhos d’água marcam a transição a uma espécie de nártex que prepara o visitante para o acesso ao memorial propriamente dito, bem como aos níveis inferior e superior. Esse espaço que preludia o memorial é pensado como um local de reflexão e homenagem, espaço solene, onde a perda é trocada pela reflexão e reconstrução de sentido. Em um painel em bronze, situado à frente de uma cascata em parede, estão gravados os nomes das vítimas, fazendo com que o observador também se veja nele refletido, sugerindo a continuação daqueles que se foram naqueles que estão vivos e, com isso, uma superação individual e coletiva da dor. A relação entre o painel e a cascata, por sua vez, remete ao contraste entre o devir, o fluxo do pensamento que nos permite esquecer momentos dolorosos, e o ser, a tentativa de manter perene, pela memória, a lembrança de entes queridos. É esse painel / cascata que delimita o espaço do memorial propriamente dito, que por sua vez abrigará elementos de referência às vítimas, bem como painéis montados com trechos das normas construtivas cuja observância poderia ter evitado essa e outras tantas tragédias.
O segundo conjunto acima mencionado é aquele formado pelo auditório e anexos. Suas características espaciais e funcionais, o diálogo restrito com o espaço exterior, compõem uma volumetria cuja predominância dos cheios sobre os vazios sugere sua implantação no nível de subsolo, toando-se partido do desnível do terreno. Já o terceiro conjunto, formado pelos espaços que compõem a “pequena edificação” e que demandam uma relação mais efetiva com o exterior – daí a predominância dos vazios e o prolongamento de uma varanda – foi pensado em nível superior, liberando o térreo para os espaços da praça e do memorial. O quarto conjunto, por fim, é aquele formado pela rampa de acesso e demais elementos de circulação vertical (escada e elevador). Sua disposição, no sentido da profundidade do terreno, realiza o contraponto com os volumes do auditório e do centro cultural (dispostos transversalmente), ao tempo em que enfatiza o direcionamento do visitante no percurso da praça ao memorial.
O amálgama entre esses espaços foi pensado de modo a produzir uma composição marcada pela sobriedade e cuja predominância dos vazios sobre os cheios visa a criar um efeito de catarse em relação à antiga ocupação, tornando o memorial convidativo, mesmo para aqueles cuja memória da tragédia vivida poderia induzir ao afastamento e à repulsa.
Equipe Técnica
Jefferson John | Coordenador
Izabela Lima | Arquiteta
Ruy Rolim | Arquiteto
Robledo Valente | Arquiteto
Gustavo Costa | Arquiteto